Estratégia
para atrair alunos estrangeiros pode ajudar a inserir país em cenário acadêmico
global.
Diversas iniciativas
recentes vêm fazendo com que o Brasil se aproxime de um cenário acadêmico
global. Bolsas de estudo no exterior do programa Ciência sem Fronteira e maior
publicação de pesquisas em meios estrangeiros são algumas delas.
Mas, para
que o país realmente consiga romper o isolamento internacional na área de
educação, o caminho, segundo especialistas, não pode ser de mão única e é
preciso também atrair estudantes para as instituições brasileiras.
Com isso
em mente, uma das principais estratégias de universidades, tanto públicas como
particulares, vem sendo o oferecimento de cursos e disciplinas em inglês. 'O inglês
é a língua franca também na educação, especialmente em áreas como
administração, ciência e tecnologia, e também na comunicação entre colegas. É
importante não só para atrair alunos estrangeiros, mas também para que o
brasileiro aprimore o idioma e para integrar os estudantes daqui e os de fora',
afirma Álvaro Bruno Cyrino, vice-diretor da Escola Brasileira de Administração
Pública e de Empresa (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas, no Rio.
Cyrino é
taxativo em relação aos que criticam aulas em inglês e as consideram uma perda
de soberania. 'Nesse sentido, o inglês é imperativo. Qual seria a outra opção?
Esperanto? Latim? Só se for para falar sozinho.'
O
economista Naércio Menezes Filho, especialista em educação e professor do
Insper e da FEA-USP, também vê um crescimento maior
das aulas em inglês nas universidades particulares. 'Nas públicas, ainda é
preciso vencer uma estrutura burocrática e, especialmente nas federais, essa
ideia é vista por alguns como uma forma de imperialismo', diz.
Demanda do exterior
Uma das universidades públicas que vem ultrapassando essa barreira é a Unesp,
que acaba de criar um programa permanente em que 50 disciplinas da
pós-graduação serão ministradas em inglês.
'O nosso
foco foi em quatro áreas em que a Unesp tem alta competência e reconhecimento
internacional: ciências agrárias, energias alternativas, odontologia e
literatura', explica o professor José Celso Freire Júnior, chefe da Assessoria
de Relações Externas da Unesp.
Lançado
em meados de maio, a iniciativa já recebeu a inscrição de dezenas de alunos
estrangeiros. Ao menos 40 deles já tiveram suas matrículas confirmadas e
desembarcam no Brasil em agosto, partindo de lugares distintos como o Estado
americano de Nebraska e a Nigéria, na África (leia os depoimentos dos
estudantes abaixo). Alunos brasileiros em busca de aprimorar o inglês também
podem se inscrever nos cursos.
Segundo
Freire, a expectativa é de que o programa tenha um impacto positivo no processo
de internacionalização da universidade, além de atender a uma forte demanda do
exterior por vagas em faculdades brasileiras. 'E esse projeto também deve criar
um ambiente com culturas diferentes e mais internacionalizado', afirma o
professor.
Iniciativas isoladas
Além da Unesp, há outras universidades brasileiras que incluem disciplinas em
outro idioma como parte permanente de suas grades. Em São Paulo, a USP, por
exemplo, tem aulas em inglês na Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto e na unidade de Piracicaba (Esalq).
Na
pós-graduação da USP também há disciplinas em inglês, mas elas são ministradas de
maneira esporádica, apenas quando há um grande número de alunos estrangeiros ou
quando a disciplina é ministrada por um professor visitante estrangeiro.
O mesmo
ocorre na Unicamp, onde as iniciativas são isoladas,
também vinculadas a fatores como a presença de um professor de outro país.
Entre as
particulares, o Insper mantém o curso de Global Management Program, que é
direcionado a executivos e tem aulas somente em inglês. Na FGV, há cursos na
pós-graduação ministrados em inglês e realizados em parcerias com instituições
internacionais. 'Aqui (na
unidade da EBAPE-FGV, no Rio), recebemos todos os anos cerca de 50 alunos
brasileiros e até 60 estrangeiros', afirma Cyrino, acrescentando que a maioria
vem da Europa, de países como França e Itália.
Cyrino
afirma que essa vinda de alunos estrangeiros é um fenômeno recente, que se
intensificou nos últimos dois ou três anos. 'E o contato dos alunos daqui com
colegas que têm outras origens é extremamente importante. Incentiva a
multiculturalidade e provoca uma intensa troca de experiência', diz. 'Essa
internacionalização está virando padrão e um requisito para entrar no clube. É
o futuro.'
Outra
vantagem citada por Menezes é o fato de que lidar com alunos estrangeiros
muitas vezes obriga a faculdade a se atualizar e a oferecer novos currículos.
Veja alguns depoimentos de futuros alunos estrangeiros da Unesp:
Ogidan
Kayode Richard, nigeriano, 25 anos
Sempre foi meu sonho conhecer o Brasil. Vou para aí em janeiro do ano que vem,
mas já estou bastante ansioso. Quero aprender muito no Brasil, e não só na
faculdade. Também
quero aproveitar a cultura brasileira e vou me esforçar para aprender o
português. Minha decisão de ir para o Brasil também passa pelo fato de vocês
estarem em um momento muito positivo, especialmente na questão econômica. Isso
me incentivou muito a decidir estudar um semestre no Brasil. Sou formado em
Bioquímica com ênfase em Biotecnologia na Universidade Federal de Tecnologia em
Akure e, no Brasil, vou seguir nessa área. Espero usar a minha experiência
obtida nessa temporada aí para abrir meus horizontes, colocar em perspectiva o
que eu aprendi na faculdade e, principalmente, usar tudo isso para aperfeiçoar
os níveis educacionais do meu país.
Melissa
Lein, americana, 23 anos
Estou me formando em Ciências Forenses pela Universidade de Nebraska-Lincoln e
embarco para o Brasil em agosto. No semestre que passarei em Jaboticabal
(interior de São Paulo) vou estudar a disciplina de Desenvolvimento
Profissional e Ética Científica. O
principal motivo que me vez decidir ir para o Brasil é que meu orientador aqui,
o professor Leon Highley, será um dos professores associados neste curso. Mas
eu já havia visitado o Brasil há alguns anos e, desde então, vinha buscando uma
oportunidade para voltar. Minha
expectativa é poder aprender em um lugar fora da minha zona de conforto. Adoro
a cultura daí e os brasileiros. Estou ansiosa para conhecer e fazer projetos
com outros colegas brasileiros e também estudantes de outras partes do mundo.
E quero
aprender o máximo de português que eu conseguir. Minhas despesas no Brasil
serão financiadas por uma bolsa de pesquisa que tenho da minha universidade.
Fonte: BBC
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