sexta-feira, 26 de abril de 2013

BRASIL IMPORTA PARA O FUTURO DAS UNIVERSIDADES BRITÂNICAS

A responsável pela assinatura do acordo que prevê envio de 10.000 estudantes brasileiros à Grã-Bretanha fala sobre a posição do Brasil no ensino superior.


Até 2014, o Brasil enviará 10.000 estudantes à Grã-Bretanha para a realização de graduação e pós-graduação, como parte do programa Ciência Sem Fronteiras. O ganho para os estudantes daqui são óbvios, já que várias universidades britânicas estão entre as melhores do mundo. Mas os britânicos também veem benefícios na parceria. `O Brasil, com sua população jovem, avança para a universidade e a pesquisa. É óbvio que daqui a alguns anos o país terá um número considerável de grandes cientistas`, diz em entrevista ao site de VEJA Joanna Newman, diretora internacional da Universities UK, organização que representa as universidades britânicas, e responsável pela assinatura do acordo entre a Grã-Bretanha e as autoridades brasileiras, representadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). `Acreditamos que a parceira com o Brasil é extremamente valiosa para as nossas instituições e para o nosso futuro.` Confira os principais trechos da entrevista concedida por Newman após sua recente passagem pelo Brasil.

Como a senhora avalia as parcerias entre Brasil e Grã-Bretanha até o momento?
 Há seis meses, fizemos uma pesquisa com as nossas universidades pedindo que elas nos apontassem que tipo de parcerias elas mantinham com o Brasil e recebemos muitas respostas interessantes. Existe, sim, colaboração nos campos da pesquisa e da pós-graduação, mas sentimos que o intercâmbio de estudantes ainda é muito pequeno comparado ao que desejamos. E essa foi uma das razões que nos fizeram abraçar o programa Ciência Sem Fronteiras.

No âmbito do programa, o que foi acertado?
Nós assinamos um contrato de cooperação diretamente com a Capes e o CNPq. Assim, otimizamos o processo. Em vez de assinar um documento para cada instituição, firmamos um compromisso em nome de todas elas. Na medida em que os estudantes forem sendo selecionados no Brasil, nós trataremos de alocá-los aqui. Esse é o maior programa de mobilidade estudantil do qual a Grã-Bretanha já participou.

O Ciência Sem Fronteiras é um projeto bastante ambicioso. Qual o ponto de vista da senhora a respeito?
 Sim, ele é audacioso. Admiramos a inciativa porque o Brasil precisa desse empurrão. Um ponto muito positivo dessa empreitada é fazer com que os beneficiados voltem ao Brasil para terminar seus estudos e, com isso, ajudem no desenvolvimento de assuntos centrais nos próximos anos. Ou seja, eles adquirem uma experiência extremamente valiosa no exterior e voltam a trabalhar pelo país.

Quantos alunos do Ciência Sem Fronteiras a Grã-Bretanha pretende receber do Brasil nos próximos anos ?
Serão 10.000 no total, sendo que 600 bolsistas cursarão integralmente o pós-doutorado na Grã-Bretanha, 2.500 farão parte desse processo lá e 6.900 são estudantes da graduação, que irão para o país para o chamado `intercâmbio sanduíche`.

O acordo não prevê que estudantes britânicos venham ao Brasil. A Grã-Bretanha sai perdendo nesse processo?
Pelo contrário. A nossa expectativa é que esses estudantes que forem para a Grã-Bretanha desenvolvam laços com as nossas instituições, professores e alunos. Assim, podem fortalecer nosso processo de internacionalização, fazendo com que os nosso alunato se interesse em estudar e fazer pesquisa no Brasil no longo prazo.

Quem vai pagar as contas do programa?
O governo brasileiro vai custear as passagens, a acomodação e as mensalidades. Mas isso não significa que as universidades britânicas estejam lucrando em cima dos estudantes brasileiros. Em muitos casos, as escolas estão oferecendo bolsas ou descontos para os alunos estrangeiros. Acredito que podemos dizer que, apesar de o Brasil estar bancando a estada dos estudantes no exterior, as universidades britânicas também estão contribuindo para o sucesso do programa.

Recentemente, o jornal britânico The Observer noticiou que a Grã-Bretanha estava interessada em atrair 10.000 estudantes brasileiros para cobrir um rombo no orçamento das suas universidades. O número coincide com a quantidade de alunos prevista no acordo do Ciência Sem Fronteiras. Como a senhora responde a essa acusação?
 A notícia vinculada no jornal não é verdadeira. O que acontece é que o sistema de financiamento dos estudantes mudou na Grã-Bretanha. Antigamente, os fundos vinham diretamente do governo para as universidades. Agora, ao invés de financiar diretamente a universidade, o governo financia os estudantes por meio de empréstimos estudantis. Ou seja, toda a verba das instituições vem agora das anuidades, e isso causou certa confusão, porque as pessoas imaginaram que queríamos atrair estrangeiros para conseguir mais dinheiro. A verdade é que, no âmbito do Ciência Sem Fronteiras, as universidades estão oferecendo descontos ao brasileiros em um claro sinal de que não se trata de fazer lucro às custas dos estudantes. Essa parceria existe porque, como eu disse antes, acreditamos que a parceira com o seu país é extremamente valiosa para as nossas instituições e para o nosso futuro.

O Brasil ainda não tem uma universidade de prestígio internacional como Oxford ou Cambridge, duas das maiores do mundo. O que a Grã-Bretanha ganha apostando nos nossos estudantes?
Temos muito a lucrar com essa parceira. O Brasil tem apresentado uma expansão do ensino superior sem precedentes, e as universidades têm se tornado um polo de pesquisa atraente para muitos de nossos estudantes, professores e pesquisadores. Talvez esse movimento não seja muito expressivo nesse exato momento, mas será em um futuro muito próximo. O Brasil, com sua população jovem, avança para a universidade e a pesquisa. É óbvio que daqui a alguns anos o país terá um número considerável de grandes cientistas. No futuro, vocês poderão oferecer soluções e invenções para os desafios da ciência. Quanto mais fortalecermos nossa aliança com vocês, mais as universidades brasileiras vão se beneficiar do nosso expertise. Nós vamos no beneficiar no longo prazo por sermos os parceiros na solução de diversos desafios.

A Grã-Bretanha é o segundo destino mais procurado pelos estudantes estrangeiros, atrás apenas dos Estados Unidos. Qual a receita do sucesso, e o que o Brasil tem a aprender com ela?
Nós temos muitas universidades importantes que lideram rankings de excelência e temos também uma longa tradição de excelência em pesquisa e ensino. Temos avaliações internas que medem a satisfação dos alunos das nossas escolas, e nada é mais precioso na hora de se vender do que alunos satisfeitos. Eles funcionam como embaixadores. Nós formamos líderes de todas as partes do mundo – inclusive alguns importantes líderes do seu país passaram por aqui e se sentiram muito bem. Eles são nossos cartões de visita.

Além do Brasil, em que outros países a Grã-Bretanha tem apostado?
A população da Grã-Bretanha e da Europa de forma geral está envelhecendo. Dessa forma, nossos esforços se concentram em países com população jovem, como Brasil, México e Colômbia, na América Latina, e Índia e China, na Ásia. São países que, acima de tudo, estão investindo no ensino superior. A quantidade de futuros cientistas e PhDs que essas nações vão produzir no futuro é animadora.



Fonte: Revista Veja - 01/07/2012

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O BRASIL NÃO FALA INGLÊS

Um dos problemas que o Brasil enfrenta para participar da sociedade globalizada do século 21 é o nosso gritante despreparo no domínio do idioma universal de hoje, o inglês. A imprensa vem relatando como a falta do domínio do inglês está dificultando nossos programas de intercâmbio, como o Ciência Sem Fronteiras do governo federal. Duas pequenas histórias vividas por mim recentemente ilustram esta realidade.


Em abril deste ano estive visitando a Universidade de Miami e conversava com um importante gestor da instituição sobre a ampliação do intercâmbio da universidade com o Brasil, uma vez que Miami é a principal porta de entrada de brasileiros nos EUA.

Ele se mostrou pouco interessado e explicou que a barreira da língua fazia com que o Brasil não fosse colocado entre as prioridades da universidade: os estudantes que vinham dos EUA não encontravam quase colegas ou professores que falam inglês, não havia cursos dados em inglês por aqui e a população tinha enorme dificuldade em entendê-los.

Embora esse comentário soe como a voz do império comentando a província, uma vez que a recíproca também é verdadeira e não inviabiliza nosso desejo de intercâmbio, é preciso reconhecer que em um mundo competitivo em que as universidades americanas (e outras em que o inglês é a língua majoritária) são muito procuradas, a visão delas é de priorizar as soluções com maior probabilidade de sucesso.

Para esse gestor, a cooperação de uma via, do Brasil para os EUA, é a única que suscita o interesse daquela universidade. O resto fica, então, por conta de relações individuais entre pesquisadores.

Segunda história: conversando recentemente com uma jovem filha de brasileira que reside na Suécia, indaguei quantas pessoas de sua classe de 2º grau na Suécia não falavam o inglês correntemente. Ela me respondeu que nenhuma. Não foi surpresa, porque já sabia que o mesmo ocorria em muitos outros países europeus.

Quis saber como isso acontecia, uma vez que no Brasil os estudantes têm a disciplina de inglês por vários anos e não sabem nada ao final. A explicação da diferença veio logo: “Nós temos uma parte das atividades escolares, inclusive jogos, feitas em inglês desde que ingressamos no colégio. Em pouco tempo todos falam o inglês coloquial correntemente e lêem inglês sem problemas.”

Uma das características das universidades de classe mundial, aquelas que são reconhecidas internacionalmente como a elite acadêmica do mundo, é ter na comunidade acadêmica um grande componente de internacionalização, seja de professores ou de alunos. Vários cursos são dados em inglês. O inglês é língua corrente nessas instituições.


Enquanto o Brasil não se convencer de que o conhecimento do inglês pela sua população é um enorme obstáculo, qualquer programa de inserção e competitividade internacional vai ficar incompleto.

Isso vale também para quem não quer estudar no exterior, mas ter um bom emprego. As empresas hoje já estão até exigindo uma terceira língua, pois o inglês já é considerado requisito obrigatório e básico.

Melhorar nosso inglês não significa, é claro, desvalorizar a língua portuguesa que esperamos que um dia, quiçá, possa ter a mesma influência que o inglês tem hoje (como já foi o grego, o latim, o francês, o alemão, etc). Mas atualmente, sem o inglês, nós seremos preteridos como parceiros prioritários. É um problema de Estado.



Fonte: Blog Roberto Lobo

sexta-feira, 12 de abril de 2013

LARGANDO NA FRENTE


Quem estudou idiomas de olho da Copa já recebe propostas de trabalho e promoções


No ano da Copa das Confederações, em que mais de 6 milhões de estrangeiros devem passar pelo País, quem correu para aprender uma segunda língua antes está se dando bem agora. Profissionais liberais e funcionários de empresas que já se comunicam em inglês e espanhol se destacam num mercado em que a habilidade em outro idioma ainda é precária.



Para Marcelo Calado, coordenador educacional do Senac São Paulo, receber bem àqueles que não falam português será o maior desafio do País. “Eles esperam um bom atendimento e o nosso maior déficit para suprir essa demanda resume-se à fluência de uma segunda língua, mais especificamente, ao domínio do inglês”, diz.

A pesquisa EF English Proficiency Index (EF EPI), publicada em 2012, traz indícios da gravidade da situação. O estudo, que avalia a habilidade na língua inglesa entre adultos de países onde o idioma não é nativo, coloca o Brasil na 46.ª colocação de um total de 54 nações.

“Os eventos desse ano trarão um diagnóstico de como estamos e, com isso, saberemos exatamente onde devemos focar nossos esforços para suprir a demanda que será ainda maior nos anos seguintes”, diz Calado, referindo-se à Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas em 2016.

“O estrangeiro se sente mais seguro em ter alguém que o entenda e acaba me pedindo para levá-lo e buscá-lo a vários lugares”, conta o taxista Ozeias Avelino Martins, de 38 anos, que começou a estudar há um ano em uma escola conveniada ao Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo. Com um ponto no Itaim Bibi, zona sul da capital, Martins afirma que há tempos sentia a necessidade de aprender inglês. “Não conseguia nem entender para onde os gringos queriam ir.”


Com o anúncio dos eventos esportivos, Martins achou que deveria correr atrás do tempo perdido. “Se deixasse para estudar em cima da hora, não conseguiria estar pronto a tempo.”

O funcionário da Tam, Tiago Ramaldes, de 20, também buscou qualificar-se por conta própria. O jovem entrou na empresa em 2011, como agente de bagagens e hoje trabalha como agente de aeroporto, no check-in, no Galeão, Rio de Janeiro. Na época, ele tinha acabado de começar um curso de inglês. A iniciativa acabou funcionando como um atalho para uma promoção alguns meses depois. “Passei por um processo seletivo bastante rigoroso e a segunda língua foi fundamental neste caso”, diz.

Hoje Ramaldes lida diariamente com estrangeiros. Há oito meses, o jovem faz também um curso de espanhol. “Não há como almejar uma carreira em uma companhia área sem a fluência em, pelo menos, uma, duas línguas além do português.”

Foi pensando no maior fluxo de turistas que o país vai receber que o gerente de uma loja da Luigi Bertolli Daniel Admo, de 31, buscou um curso intensivo de inglês no final do ano passado. “Precisava de algo efetivo e rápido, pois em 2013 volto para a faculdade e talvez não conseguisse conciliar tudo”, diz.

Admo encontrou o CNA Hello, curso voltado a profissionais de serviços que estão em contato direto com clientes e que terão de atender, cada vez mais, também estrangeiros. Apesar de acreditar que as Copas trarão um número imenso de oportunidades ligado à área, o gerente acha que muitas delas serão provisórias. “Não tenho interesse em trocar o meu emprego por uma dessas grandes oportunidades, mas falar inglês me traz uma estabilidade maior onde estou”, afirma. “Posso, por exemplo, ser transferido para uma loja onde haverá uma maior circulação de turistas.”

A engenheira Lidiane de Souza, de 37, é gerente de projetos da Latin Sports, agência de marketing esportivo responsável pela realização de competições de corrida e triatlo no País. Fluente em inglês há anos, Lidiane buscou um professor particular no ano passado, com o intuito de revisar termos técnicos do idioma para se preparar para o exame do Project Management Institute (PMI), que lhe garantirá uma certificação de validade internacional na área em que atua.

Mesmo não trabalhando diretamente com futebol, a engenheira afirma que o interesse de marcas multinacionais pelo esporte tem aumentado e tende a crescer ainda mais por conta das Copas que se aproximam. “A Latin está se preparando para abraçar esse novos projetos e alcançar novos clientes”, diz Lidiane que em breve será a primeira funcionária certificada da empresa.


Governo


Para garantir a qualificação dos profissionais que estarão cara a cara com os milhares de estrangeiros que visitarão o País, o Ministério do Turismo (MTur) lançou, no início do segundo semestre de 2012, o Pronatec Copa, programa de capacitação voltado às áreas de hospitalidade, lazer e turismo. Realizado em parceria com o Ministério da Educação (MEC), o Pronatec Copa vai oferecer 240 mil vagas gratuitas em cursos profissionalizantes presenciais até 2014 e pelo menos 36,5 mil vagas em cursos de idiomas até 2013 - o número de vagas de cursos de línguas para 2014 ainda não foi fechado. O programa do governo federal que já é executado pelo sistema S e pelos institutos federais de educação passaram a ser aplicados sob um recorte de 119 municípios, entre cidades-sede e seus entornos.

Para Marcela Jeolás, diretora no MTur, dificilmente os brasileiros sairão por aí falando uma segunda língua como um todo. “Precisamos, no entanto, garantir um mínimo de comunicação com o turista”, diz. Segundo a diretora, o ministério pretende “fazer cerco por todos os lados”, qualificando não só os funcionários de hotéis e restaurantes, mas também taxistas, feirantes, comerciantes e servidores públicos. Gradativamente, convênios têm sido fechados com a secretarias estaduais e municipais para o atendimento focado nesses públicos.

Entre 2009 e 2011, o MTur atuou com o mesmo intuito com o programa Olá, Turista!, realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Neste caso, no entanto, as aulas eram virtuais. O ministério estima que 57 mil profissionais tenham se qualificado na ocasião. De acordo com Marcela, o curso a distância garantia um conhecimento mínimo, mas não uma comunicação efetiva. “Nossa preocupação agora é oferecer um curso de melhor qualidade, 100% presencial e com bastante horas/aula, de modo que consigamos um retorno maior e possamos garantir a comunicação.”


In company

Braço do Pronatec Copa, o Pronatec Copa na Empresa foi criado para facilitar a adesão ao programa. Com ele, empresários do ramo turístico podem formar turmas entre seus colaboradores e pleitear a realização de cursos na sede da própria empresa.

A rede de hotéis Othon no Rio recebeu o projeto-piloto da modalidade. O garçom Benedito Fernandes, de 38, é um dois 100 alunos inscritos no programa que, neste caso, reúne os módulos iniciante e profissional. “Aprender inglês tem sido um grande desafio”, afirma Fernandes, que já havia feito um curso online anteriormente. Na sua opinião, o atendimento presencial e “personalizado” contribui muito para compreensão do novo idioma.

O garçom diz ser evidente a melhora do serviço que tem prestado. “Deixamos de enxergar o cliente estrangeiro como um bicho de sete cabeças e isso facilita uma aproximação tanto de um quanto do outro.”


Iniciativa privada


Apesar de afirmar que as principais redes hoteleiras instaladas no País já não enfrentam grandes problemas com o idioma, o vice-presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, Julio Serson, acredita que as medidas de capacitação do governo não serão suficientes para sanar o problema. “Não podemos, enquanto representantes da iniciativa privada, passar essa responsabilidade única e exclusivamente para o poder público”, diz. “Esse é um momento muito importante para o turismo brasileiro e só teremos sucesso diante da somatória de esforços de todos os grupos.”

Desde 2011, o hotel Transamérica, de São Paulo, mantém uma parceria com uma escola de línguas para a capacitação de seus funcionários. Em fevereiro, 45 de seus colaboradores iniciarão um curso de inglês que não só lhes dará uma capacitação instrumental, mas também noções mais aprofundadas do idioma. O mensageiro Ronaldo Fernandes, de 23, está ansioso para o início das aulas. Sem nunca ter feito um curso de idiomas, o jovem diz que o pouco que sabe para exercer o seu trabalho diário, aprendeu com outros funcionários e com os próprios clientes.

Fernandes lida diretamente com os turistas. Normalmente, é ele quem tira as dúvidas dos hospedes sobre o próprio hotel. “Quando comecei a trabalhar aqui, era bem complicado, mas aos poucos comecei a me virar”, afirma. “Com o curso, conseguirei fazer isso com muito mais segurança, sem precisar do auxílio de outros profissionais.”


Fonte: estadao.edu

MOTIVOS PARA APRENDER INGLÊS


Camareira sem mímica




Há dois anos e meio, a camareira no Novotel Morumbi Solange Alves Pereira dos Santos, de 40, não havia terminado o ensino médio. Hoje, já formada, estuda inglês e quer cursar Hotelaria ainda este ano. “Tinha dificuldade muito grande de me comunicar com hóspedes estrangeiros. Sempre ficava aquele ponto de interrogação, tínhamos que fazer mímicas.”

Depois de apenas 2 meses de curso, a situação já mudou. “Outro dia uma hóspede precisava de 4 travesseiros. Ela falou em inglês e eu consegui entender”, conta, orgulhosa. Divorciada e mãe de quatro filhos, Solange termina seu turno à tarde. Estuda duas vezes por semana numa escola de inglês na Avenida Paulista, das 18 horas às 19h30. Depois gasta uma hora e meia para voltar para casa, em Suzano, Grande São Paulo, mas não pensa em desistir.

“Usei meu 13º salário e parte do 14º (bonificação paga pela empresa) para bancar minhas aulas.” Assim como muitos brasileiros, Solange pretende usar o que aprende nas aulas de inglês durante a Copa do Mundo, em 2014. “Quero estar preparada para receber os estrangeiros. Ano que vem, se conseguir, começo um curso de espanhol.”


De São Paulo a Massachusetts


Quando começou a frequentar as aulas de inglês, há 5 anos, Rafael Zulli, hoje com 16, já sabia o que queria: proficiência no idioma. Na mesma época, começou a estudar no Colégio Rio Branco, que é parcialmente bilíngue.

Agora aluno do 3º ano do ensino médio, Rafael se prepara para disputar vaga em Ciência da Computação ou Engenharia da Computação nos Estados Unidos. “Minha meta é estudar no MIT.” A ideia de cursar o Massachusetts Institute of Technology nasceu graças a um projeto surgido no MIT que Rafael ajudou a introduzir em sua escola, uma ferramenta chamada Scratch, usada para ensinar a crianças noções de programação. “Quando vi aquilo soube na hora que queria estudar lá.”

O processo de inscrição começa em agosto e dura seis meses. Atividades extracurriculares contam pontos. Para Rafael isso não será um problema. Além do trabalho com o Scratch, ele também faz trabalhos sociais e desenvolveu um projeto, “um joguinho da água”, para o Dia Mundial da Água. Agora é só cruzar os dedos.


Ideia que vale ouro


Algo muito simples e barato. Isso é o máximo que a estudante de Medicina Maria Cysne revela da ideia graças à qual ela será uma das 150 pessoas a participar, em 22 de junho, em Boston, do congresso de 200 anos do The New England Journal of Medicine, uma das mais importantes revistas científicas do mundo.

Ela ficou entre as vencedoras de um desafio proposto pelo New England: médicos e alunos de Medicina do mundo todo deveriam propor uma solução para um problema recorrente hoje em dia, o dos pacientes que pesquisam na web sintomas de sua doença e já chegam ao consultório com um diagnóstico pronto. “Não quero falar sobre minha ideia antes de patenteá-la. Não para ganhar dinheiro, mas sim para facilitar a vida das pessoas.”

Aluna do 8º período do curso da Federal de Minas Gerais, Maria estuda inglês há 8 anos na Cultura Inglesa em Belo Horizonte. Vai colocar em prática seu conhecimento de inglês esta semana, quando fará palestra em um congresso sobre dispositivos móveis na área médica, em Luxemburgo. “Vou ficar uma semana em Londres, para conhecer universidades.”

Taxista na Madeleine Ville


O taxista Elbert Daniel da Silva Novaes, de 32 anos, descobriu um filão na região onde faz ponto, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. “Muitos clientes são estrangeiros e grande parte não fala português”, diz. “Vários chegam com o endereço anotado num papel, porque sabem que é difícil encontrar taxistas que falem inglês.”

Por conta disso, Elbert decidiu se matricular em um curso de inglês criado especialmente para taxistas na Virginia Center School. “Minha turma tinha só eu e mais um colega. Mas ele teve que parar.” Por conta disso, Elbert só assistiu aula por três meses. “Agora estou aguardando mais alguém se matricular para dar continuidade ao curso.” Mesmo com pouco tempo de aula, o taxista já sente que fez algum progresso.

Pretende ao menos aprender o básico para se comunicar com clientes estrangeiros. “Às vezes eles querem marcar alguma corrida, fazer alguma coisa diferente e, sem falar inglês, não consigo fazer isso.”


Fonte: estadao.edu


sexta-feira, 5 de abril de 2013

A IMPORTÂNCIA DO IDIOMA INGLÊS NO BRASIL


Já virou lugar-comum dizer que o Brasil está na moda. Investidores inundam nosso mercado de dólares, a respeitada revista The Economist pôs na capa a imagem do Cristo Redentor decolando, Barack Obama derramou-se em elogios na visita feita ao, a Copa e as Olimpíadas estão logo aí. Tudo muito bom, mas, se o brasileiro quiser mesmo mudar seu status no mundo, vai precisar entender e ser entendido. Isso passa pelo domínio da língua universal, o inglês, objetivo que hoje parece bem distante.


 Há várias razões para essa deficiência. Entre elas estão a baixa qualidade do ensino na rede pública, a escassez de professores qualificados nas escolas privadas e o fato de o inglês não ser disciplina obrigatória até o 6.º ano do ensino fundamental.

Uma pesquisa divulgada em março pela empresa de ensino de idiomas Education First colocou o Brasil na 31.ª posição entre 44 países num ranking de proficiência (competência) em inglês. O estudo usou testes aplicados a 2,3 milhões de pessoas. Curiosamente, os Brics, grupo de países emergentes, ficaram agrupados, todos com grau baixo de proficiência. A China puxou a fila, na modesta 29.ª colocação, seguida de Índia, Brasil e Rússia. Na América Latina, ficamos atrás de Argentina (16.º) e México (18.º).

Para a coordenadora das disciplinas de língua estrangeira nas graduações da Unicamp, Inês Signorini, o problema transcende o aprendizado do idioma. “O déficit de falantes em inglês é a ponta do iceberg do problema maior, a qualidade da educação brasileira.”

Problemas estruturais também prejudicam o aprendizado. Um exemplo é o fato de a lei só definir como obrigatório o ensino de idiomas estrangeiros a partir do 6.º ano do fundamental – época em que os alunos já têm, em média, 11 anos de idade. De quebra, no ensino médio muitas escolas incluem a alternativa do ensino de espanhol como língua estrangeira.

Com isso, não se aprende bem nada, acredita Julio de Angeli, vice-presidente da Education First. Muitos alunos fazem espanhol por comodismo, pela semelhança com o português. Aprendem, no máximo, portunhol. “O inglês fica à margem.”

Talvez isso explique por que mesmos os jovens, acostumados a navegar nas redes sociais em que o inglês é requisitado a toda hora, tenham dificuldades com o idioma. Vagas para trainees e estagiários não são preenchidas por falta de candidatos que atendam ao pré-requisito de fluência em inglês. “O idioma continua sendo um filtro na seleção. Mais do que nunca, quem tem inglês fluente sai na frente”, diz Manoela Costa, gerente da consultoria de recrutamento Page Talent.

O apagão do inglês não poupa nem a elite do sistema educacional. Nas universidades, alunos com baixo domínio do idioma são regra, não exceção. Para o coordenador de Relações Internacionais da Unicamp, Leandro Tessler, esse quadro prejudica a produção científica brasileira. “Não vamos avançar no impacto de nossas pesquisas sem uma comunidade acadêmica fluente em inglês. Pesquisador que não sabe inglês está em desvantagem em relação ao que escreve e lê bem.”

Foi pensando nas portas que o inglês poderia abrir que a relações públicas Maria Cecília Mantovanini Aguiar matriculou aos 3 anos a filha Ana Thereza, hoje com 18, na Chapel School, na zona sul de São Paulo. Lá, as únicas aulas em português são de história e geografia do Brasil, língua portuguesa e literatura. “Há 15 anos já se falava de globalização. Como falo inglês e meu marido também, sentimos que a educação bilíngue seria um plus para a Ana.”

Outra opção é a dos intercâmbios, que juntam ao aprendizado da língua a chance de conhecer de perto a cultura (e o sotaque) dos nativos do idioma. Mas se engana quem pensa que basta um mês no exterior para resolver problemas com o domínio do inglês, alerta o gerente de Marketing da agência Student Travel Bureau (STB), Samuel Lloyd.

“Para potencializar o investimento, recomendamos que, antes de viajar, o aluno faça um curso no Brasil. As pessoas têm a ilusão de que só ficando um mês fora voltam falando, e isso não é verdade.”


INGLÊS AJUDA NA ASCENSÃO EM REDE DE HOTÉIS



Gerente de recrutamento da rede de hotéis Estanplaza, Fabiano Orsini, de 35, investia em cursos de inglês desde a época da faculdade de Hotelaria, nos anos 90. A fluência na língua ajudou Orsini, que começou como recepcionista, a subir na empresa. “Entrevisto candidatos a vagas no Estanplaza em inglês. Preciso manter a fluência.”

No trabalho, Orsini vê muitos currículos de candidatos que dizem ter inglês intermediário. “É uma palavra chata, que engana. A pessoa pode simplesmente dominar o inglês instrumental.” Segundo ele, estudantes de hotelaria e turismo não podem ser negligentes com o idioma. “Quem faz isso arrisca seu projeto de vida. Queremos profissionais que dominem inglês, pelo menos o básico, para melhor atender ao visitante. Assim, eles se tornam referência.”

Para o vice-presidente de Recursos Humanos do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, Francisco Garcia, o turismo é a típica indústria na qual funcionários de todos os níveis deveriam aprender inglês. “Vamos receber muita gente para os eventos esportivos, mas não podemos esquecer dos estrangeiros que têm vindo em massa fazer negócios”, afirma.

Sedes da Copa. O governo federal está tentando minimizar o apagão do inglês oferecendo cursos básicos a quem lida diretamente com turistas. Com investimento de R$ 17 milhões, o Ministério do Turismo selecionou 80 mil profissionais das 12 sedes de jogos da Copa para o Programa Olá, Turista! Eles aprendem o idioma pela internet, em um curso de 80 horas.

Um dos beneficiados pela iniciativa é o agente da Polícia Federal Eduardo Pizzoli, de 43, que trabalha no setor de imigração do Aeroporto de Guarulhos. Ele fez curso de inglês na adolescência, mas sentia a necessidade de se aprimorar. “Já queria retomar os estudos, então o Olá, Turista! veio em boa hora. Estou atendendo melhor”, diz. “Lido com pessoas do mundo todo e o inglês é imprescindível. Quem tiver condições deve estudar a língua.”

NÚMERO DE TURISTAS POR ANO EM SÃO PAULO E O EFEITO COPA

11,7 milhões

Em 2010, dos quais 1,6 milhão estrangeiros

15,8 milhões

Previsão para 2014