sexta-feira, 5 de abril de 2013

A IMPORTÂNCIA DO IDIOMA INGLÊS NO BRASIL


Já virou lugar-comum dizer que o Brasil está na moda. Investidores inundam nosso mercado de dólares, a respeitada revista The Economist pôs na capa a imagem do Cristo Redentor decolando, Barack Obama derramou-se em elogios na visita feita ao, a Copa e as Olimpíadas estão logo aí. Tudo muito bom, mas, se o brasileiro quiser mesmo mudar seu status no mundo, vai precisar entender e ser entendido. Isso passa pelo domínio da língua universal, o inglês, objetivo que hoje parece bem distante.


 Há várias razões para essa deficiência. Entre elas estão a baixa qualidade do ensino na rede pública, a escassez de professores qualificados nas escolas privadas e o fato de o inglês não ser disciplina obrigatória até o 6.º ano do ensino fundamental.

Uma pesquisa divulgada em março pela empresa de ensino de idiomas Education First colocou o Brasil na 31.ª posição entre 44 países num ranking de proficiência (competência) em inglês. O estudo usou testes aplicados a 2,3 milhões de pessoas. Curiosamente, os Brics, grupo de países emergentes, ficaram agrupados, todos com grau baixo de proficiência. A China puxou a fila, na modesta 29.ª colocação, seguida de Índia, Brasil e Rússia. Na América Latina, ficamos atrás de Argentina (16.º) e México (18.º).

Para a coordenadora das disciplinas de língua estrangeira nas graduações da Unicamp, Inês Signorini, o problema transcende o aprendizado do idioma. “O déficit de falantes em inglês é a ponta do iceberg do problema maior, a qualidade da educação brasileira.”

Problemas estruturais também prejudicam o aprendizado. Um exemplo é o fato de a lei só definir como obrigatório o ensino de idiomas estrangeiros a partir do 6.º ano do fundamental – época em que os alunos já têm, em média, 11 anos de idade. De quebra, no ensino médio muitas escolas incluem a alternativa do ensino de espanhol como língua estrangeira.

Com isso, não se aprende bem nada, acredita Julio de Angeli, vice-presidente da Education First. Muitos alunos fazem espanhol por comodismo, pela semelhança com o português. Aprendem, no máximo, portunhol. “O inglês fica à margem.”

Talvez isso explique por que mesmos os jovens, acostumados a navegar nas redes sociais em que o inglês é requisitado a toda hora, tenham dificuldades com o idioma. Vagas para trainees e estagiários não são preenchidas por falta de candidatos que atendam ao pré-requisito de fluência em inglês. “O idioma continua sendo um filtro na seleção. Mais do que nunca, quem tem inglês fluente sai na frente”, diz Manoela Costa, gerente da consultoria de recrutamento Page Talent.

O apagão do inglês não poupa nem a elite do sistema educacional. Nas universidades, alunos com baixo domínio do idioma são regra, não exceção. Para o coordenador de Relações Internacionais da Unicamp, Leandro Tessler, esse quadro prejudica a produção científica brasileira. “Não vamos avançar no impacto de nossas pesquisas sem uma comunidade acadêmica fluente em inglês. Pesquisador que não sabe inglês está em desvantagem em relação ao que escreve e lê bem.”

Foi pensando nas portas que o inglês poderia abrir que a relações públicas Maria Cecília Mantovanini Aguiar matriculou aos 3 anos a filha Ana Thereza, hoje com 18, na Chapel School, na zona sul de São Paulo. Lá, as únicas aulas em português são de história e geografia do Brasil, língua portuguesa e literatura. “Há 15 anos já se falava de globalização. Como falo inglês e meu marido também, sentimos que a educação bilíngue seria um plus para a Ana.”

Outra opção é a dos intercâmbios, que juntam ao aprendizado da língua a chance de conhecer de perto a cultura (e o sotaque) dos nativos do idioma. Mas se engana quem pensa que basta um mês no exterior para resolver problemas com o domínio do inglês, alerta o gerente de Marketing da agência Student Travel Bureau (STB), Samuel Lloyd.

“Para potencializar o investimento, recomendamos que, antes de viajar, o aluno faça um curso no Brasil. As pessoas têm a ilusão de que só ficando um mês fora voltam falando, e isso não é verdade.”


INGLÊS AJUDA NA ASCENSÃO EM REDE DE HOTÉIS



Gerente de recrutamento da rede de hotéis Estanplaza, Fabiano Orsini, de 35, investia em cursos de inglês desde a época da faculdade de Hotelaria, nos anos 90. A fluência na língua ajudou Orsini, que começou como recepcionista, a subir na empresa. “Entrevisto candidatos a vagas no Estanplaza em inglês. Preciso manter a fluência.”

No trabalho, Orsini vê muitos currículos de candidatos que dizem ter inglês intermediário. “É uma palavra chata, que engana. A pessoa pode simplesmente dominar o inglês instrumental.” Segundo ele, estudantes de hotelaria e turismo não podem ser negligentes com o idioma. “Quem faz isso arrisca seu projeto de vida. Queremos profissionais que dominem inglês, pelo menos o básico, para melhor atender ao visitante. Assim, eles se tornam referência.”

Para o vice-presidente de Recursos Humanos do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, Francisco Garcia, o turismo é a típica indústria na qual funcionários de todos os níveis deveriam aprender inglês. “Vamos receber muita gente para os eventos esportivos, mas não podemos esquecer dos estrangeiros que têm vindo em massa fazer negócios”, afirma.

Sedes da Copa. O governo federal está tentando minimizar o apagão do inglês oferecendo cursos básicos a quem lida diretamente com turistas. Com investimento de R$ 17 milhões, o Ministério do Turismo selecionou 80 mil profissionais das 12 sedes de jogos da Copa para o Programa Olá, Turista! Eles aprendem o idioma pela internet, em um curso de 80 horas.

Um dos beneficiados pela iniciativa é o agente da Polícia Federal Eduardo Pizzoli, de 43, que trabalha no setor de imigração do Aeroporto de Guarulhos. Ele fez curso de inglês na adolescência, mas sentia a necessidade de se aprimorar. “Já queria retomar os estudos, então o Olá, Turista! veio em boa hora. Estou atendendo melhor”, diz. “Lido com pessoas do mundo todo e o inglês é imprescindível. Quem tiver condições deve estudar a língua.”

NÚMERO DE TURISTAS POR ANO EM SÃO PAULO E O EFEITO COPA

11,7 milhões

Em 2010, dos quais 1,6 milhão estrangeiros

15,8 milhões

Previsão para 2014

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