Formar profissionais que dominem idiomas
estrangeiros – especialmente o inglês – para atender a turistas, empresários,
jornalistas, esportistas e representantes de delegações internacionais durante
a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 é um desafio. Não há dados
oficiais disponíveis que confirmem o déficit de pessoas que falem inglês no
Brasil, mas os próprios estrangeiros no país confirmam que têm certa
dificuldade para se comunicar.
De acordo com a pesquisadora em aprendizado e
bilinguismo Nara Vidal, a inexistência de levantamentos ou bibliografia sobre o
tema indica o atraso em debater a questão de forma ampla. “É extremamente
difícil encontrar dados. Fontes informais indicam que apenas 10% da população
brasileira falam inglês. E essa informação é bastante problemática e difícil de
analisar, porque falar inglês é um conceito complexo. Há aqueles que sabem um
pouco, sabem muito, são fluentes. Enfim, 5%, 10% ou 30%, seja o que for, não
temos nem metade da população brasileira falando inglês”, informou Nara.
A Agência Brasil falou com a enfermeira canadense
Celine Purcell, 28 anos, em visita ao Brasil pela segunda vez, sobre a sua
percepção da qualidade do inglês quando um estrangeiro é recebido no país. Para
ela, é possível entender os brasileiros e se comunicar de forma simples. Celine
explicou, no entanto, que não sente segurança para resolver problemas mais
complexos, que poderiam envolver a necessidade de vocabulário mais avançado e
fluência.
“Pedir uma refeição ou pegar um táxi não é
problema. Ainda não passei por grandes dificuldades aqui, mas acredito que se
precisasse comprar um remédio, explicar um sintoma no hospital ou me envolvesse
em algum problema com a polícia, não conseguiria ser compreendida ou compreender
de forma satisfatória”, disse.
Ao perceber a necessidade de os funcionários se
comunicarem melhor para incrementar os negócios, Malu Farkuh, dona de uma
lanchonete no Mercado Municipal de São Paulo, permitiu que três atendentes
cursassem aulas de inglês pelo Programa É a Língua Que Nos Une, da prefeitura
da cidade, em parceria com a São Paulo Turismo (SPTuris) e a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Elas não saíram falando inglês
fluente, mas conseguem se comunicar com os clientes de fora e tem sido
positivo. Inclusive, agora vão fazer o curso de espanhol”, disse Malu.
A funcionária dela, Maria de Lourdes Bezerra, 52
anos, se formou em abril pelo programa e foi oradora da turma de 13 alunos.
Segundo Maria de Lourdes, falando inglês, as vendas aumentam e a satisfação dos
clientes também. "Agora, posso oferecer mais coisas, antes a gente só
ficava apontando. A partir do momento em que a gente fala inglês, muda o
tratamento dos clientes em relação à gente. Se eles queriam comer uma coisa, já
comem duas, querem experimentar e ficam curiosos”, explicou. Lourdes teve 40
aulas, de nível básico e instrumental, com foco em situações específicas do
cotidiano do trabalho.
O mesmo fez a taxista Débora Boltolozi, 34 anos,
que participou do Taxista Nota 10, que teve até o início deste ano mais de 11,3
mil inscritos. O curso de idiomas, oferecido gratuitamente pela Confederação
Nacional do Transporte (CNT), em parceria com o Serviço Social do Transporte
(Sest), o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) e ao Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é feito a distância
para facilitar o acesso dos taxistas. As aulas são em CDs, com apostilas
específicas.
“Fizemos eu, meu marido, minha irmã e meu
cunhado. Dá uma base boa porque é dirigido à profissão. Foram três meses de
curso, então dá pra ir se virando. Com o tempo, vou me soltando. O que vale é a
prática”, explicou Débora.
“Esses profissionais são os responsáveis por dar
as boas-vindas a quem chega nas cidades e precisam estar preparados para isso.
Nossa expectativa é que eles estejam cada vez mais preparados para gerenciar
seus negócios e se tornarem um autêntico cartão de visita das cidades
brasileiras, não só durante os grandes eventos, mas em todas as ocasiões em que
o Brasil recebe turistas”, disse à Agência Brasil o presidente da CNT e do
Sest-Senat, senador Clésio Andrade (PMDB-MG).
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac), em parceria com o Ministério do Turismo (MTur), também oferece oito
cursos de idiomas – inglês, espanhol e Língua Brasileira de Sinais (Libras) –,
com mais de 7,9 mil vagas nos estados-sede da Copa do Mundo (Amazonas, Bahia,
Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo). No Rio e em São
Paulo, já há turmas formadas.
Esses cursos estão no âmbito do Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), especificamente do
Pronatec/Copa, criado em 2001. As aulas são gratuitas e as inscrições para o
segundo semestre deste ano podem ser feitas pela internet. De acordo com o
Mtur, a prioridade é dada às cidades-sede da Copa das Confederações, em 2013.
Os cursos são gratuitos e presenciais.
“Muito se fala em inclusão social. Inclusão
social é não privar o aluno de baixa renda de se inserir no mercado de trabalho
e nas relações sociais por causa da língua, ou da falta dela. Inglês é a
completa inclusão social. Ainda é um privilégio de poucos, considerado
elitista, o que não pode ser. O inglês precisa ser ferramenta disponível a
todos, desde cedo, para a melhor formação profissional do cidadão brasileiro”,
disse Nara Vidal.
Fonte: www.portaleducacao.com.br
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